“Empresas que não têm certo lastro financeiro vão passar por situação difícil”, diz Mario Lanznaster, diretor presidente da catarinense Aurora, uma das maiores cooperativas agrícolas brasileiras, com receita projetada para este ano de R$ 4,1 bilhões. “Algumas vão fechar, outras vão entrar em concordata ou vão se juntar para sobreviver”, afirma o executivo.
Margens estreitas
Acostumados a operar com margens de lucro baixas, por volta dos 3%, os produtores afirmam que não têm como absorver o aumento de custos. O ciclo de produção do frango é de cerca de 30 dias e, o dos suínos, quase seis meses. Com a alta no preço da soja e do milho, o dinheiro reservado para bancar a ração dos animais – constituída basicamente por esses dois grãos – acaba no meio do caminho.
De acordo com os produtores, o repasse do
aumento dos custos é inevitável. O temor é de que a alta no preço das
carnes leve os consumidores a buscarem alternativas, como a carne bovina
e os peixes, o que derrubaria as vendas, agravando ainda mais a crise.
Na avaliação de Lanznaster, que é agrônomo, muitas
agroindústrias com abates de menos de 100 mil frangos por dia já têm
dificuldades. “Os maiores ainda têm alguma margem por causa do volume de
abates”, diz.Na Aurora, onde são mortos 600 mil frangos e 14 mil suínos por dia, as medidas emergenciais para lidar com a situação incluem a redução em 10% do alojamento de pintinhos de corte e 10% do abate de frangos e suínos. Horas extras e abates aos sábados foram suspensos para reduzir gastos extras. “Quem não fizer isso está rasgando dinheiro”, diz Lanznaster.
O drama é maior para empresas menores. Quem tem caixa pode suportar períodos maiores no vermelho e aguardar que a “mão invisível” do mercado feche as portas de quem não tem. É o caso de grandes companhias do setor, como BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, e da Marfrig, que tem como cartão de visita a Seara. A lei da oferta e da procura, com o tempo, tende a reequilibrar produção e demanda.
A previsão, porém, é de que a situação dure
ao menos um ano, até a colheita da próxima safra nos EUA, maior produtor
mundial de milho e soja. O Brasil teve safrinha recorde de milho e
poderá se tornar neste ano o maior exportador mundial de soja.
Mas como a oferta internacional foi afetada
pelo calor e a seca nos EUA, onde as temperaturas de julho foram as mais
altas em mais de 100 anos (desde 1895), as encomendas de compradores de
fora cresceram e os preços locais subiram em linha. Em alguns casos,
superando até a barreira dos 100% em relação ao mesmo período do ano
passado.
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