O Tribunal do Júri de Contagem (região metropolitana de Belo Horizonte)
condenou, nesta sexta-feira (8), o goleiro Bruno Fernandes, 28, a 22
anos e três meses de prisão, por homicídio triplamente qualificado,
sequestro e ocultação do cadáver da modelo Eliza Samudio, mãe de seu
filho Bruninho, morta em 10 de junho de 2010. A professora Dayanne
Souza, 25, ex-mulher e mãe das duas filhas do goleiro, foi absolvida da
acusação do sequestro de Bruninho Samudio.
"Estou muito feliz", disse Dayanne, após a absolvição.
Com a condenação, Bruno permanece recluso na penitenciária federal de
segurança máxima Nelson Hungria, em Contagem (MG), onde está detido
desde julho de 2010.
O promotor solicitou aos jurados que absolvessem Dayanne depois que ela
pediu para ser reinterrogada na abertura da última sessão. A ex-mulher
de Bruno afirmou que foi coagida pelo ex-policial José Laureano Assis, o
Zezé --que passou a ser investigado recentemente por suspeitas de que
ele participou da morte de Eliza-- para esconder a criança.
A juíza Marixa Fabiane Lopes, do Tribunal do Júri, classificou Bruno,
em sua sentença, como um pessoa "fria, violenta e dissimulada". De
acordo com a senteça da juíza, o goleiro "demonstra absoluta impiedade".
O dia a dia do julgamento
Crime chocou o país
Bruno foi preso quando vivia o melhor momento na carreira no futebol. O
atleta era titular do Flamengo e negociava transferência com o Milan da
Itália. Também era cotado para assumir a camisa 1 da seleção
brasileira. Os crimes contra Eliza e o bebê tiveram repercussão
internacional e chocaram o país a cada fato novo que surgia.
Ao longo do processo, o goleiro nunca havia admitido a morte de Eliza e
negava ter participado dos crimes contra ela e o filho. Em
interrogatório na quarta-feira (6), o jogador confirmou, pela primeira
vez, que a modelo foi morta.
Embora tenha confessado culpa por não ter evitado crime, apontou Luiz
Henrique Romão, o Macarrão, seu funcionário e amigo de infância, como
mentor do sequestro e homicídio.
O jogador ainda indicou que Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, foi
contratado por Macarrão para matar a modelo --pela primeira vez algum
dos envolvidos delatou Bola em juízo.
Jogador admite morte
Ontem (7) pela manhã, o goleiro pediu para ser interrogado novamente
pois queria explicar de que forma contribuiu para o assassinato de
Eliza. Em apenas uma declaração, Bruno afirmou que "sabia" da morte da
modelo por conta das brigas que ela tinha com Macarrão.
Desde o início do julgamento, o goleiro adotou postura diversa da que
teve no júri de novembro passado, no qual deveria ter sido julgado, mas
teve o processo desmembrado porque destituiu seu advogado. O atleta
abandonou a postura altiva, esteve a maior parte do tempo cabisbaixo e
chorou por diversas vezes.
"Criminoso facínora"
Em sua explanação nessa quinta-feira (7), o promotor Henry Wagner de
Castro afirmou que Bruno "estava no comando" do plano traçado para
seqüestrar Eliza e o bebê e matar a modelo. Castro qualificou o goleiro
como um "criminoso facínora", chefe do tráfico de drogas em Ribeirão das
Neves (MG), cidade pobre onde cresceu, e inescrupuloso no trato com as
mulheres.
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Versão da polícia para morte de Eliza: o caso Bruno em quadrinhos40 fotos
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Minas Gerais
- Bruno, Macarrão, Flávio, Coxinha e Elenílson são presos e levados à
penitenciária de segurança máxima Nelson Hungria, em Contagem (MG); a
Justiça mineira recebeu a denúncia do Ministério Público, tornando todos
réus em ação penal por homicídio triplamente qualificado (por motivo
torpe, mediante meio cruel e sem chance de defesa da vítima), cárcere
privado, ocultação de cadáver e corrupção de menor. O corpo de Eliza não
foi encontrado
Leia mais Ilustrações: evision Reportagem: Rosanne D'Agostino
Segundo a denúncia, o goleiro planejou a morte de Eliza porque não
queria pagar pensão alimentícia para o filho. Para cumprir a tarefa,
envolveu uma série de amigos, em especial Macarrão, seu braço direito.
Após alguns episódios de ameaças e agressões contra a modelo --que
incluem tentativas de fazer ela abortar o feto-- o jogador teria atraído
Eliza com o argumento de que queria fazer um teste de DNA e assumir a
criança.
Depois de ser agredida e sequestrada por Macarrão e Jorge Luiz Rosa,
primo do goleiro, no Rio de Janeiro, em 4 de junho de 2010, Eliza foi
levada ao sítio do atleta em Esmeraldas (MG), no dia seguinte.
Além de Macarrão e Jorge, Fernanda Gomes de Castro, então amante do
goleiro, acompanhou o grupo na viagem. Antes de chegarem ao sítio, eles
pernoitaram em um motel em Contagem (MG).
Eliza ficou no cárcere, dentro do sítio, entre 6 e 10 de junho, até ser
levada por Macarrão e Jorge ao encontro de Bola. A modelo foi morta por
asfixia e esganadura. Seu corpo foi esquartejado --partes foram jogadas
a cães-- e até hoje não foi encontrado.
Depois da morte de Eliza, Bruninho Samudio foi levado para o sitio em
Esmeraldas, já que Bola não quis matá-lo, segundo a Promotoria. Quando o
caso veio à tona, a criança foi levada por Dayanne ao encontro de
Wemerson Marques de Souza, o Coxinha, que entregou o bebê para moradores
do bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves. Lá, Bruninho passou de casa
em casa até ser localizado pela polícia, em 26 de julho de 2010.
Próximos julgamentos
Ainda irão a júri Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, em abril
próximo, Wemerson e Elenílson Vítor da Silva, que era administrador do
sítio do goleiro, que serão julgados em maio deste ano.
Macarrão e Fernanda foram julgados em novembro passado. O ex-amigo de
Bruno, que apontou o goleiro como o mandante dos crimes, foi condenado a
15 anos de prisão –sua pena foi reduzida em oito anos por ele ter
confessado o crime. Já Fernanda pegou cinco anos por participação no
sequestro de Eliza e do bebê.