BRASÍLIA
e SÃO PAULO - Outrora defensor das campanhas de arrecadação de fundos
entre filiados, o PT mudou. Para tentar acabar com o déficit de R$ 44,5
milhões que registrou no final de 2010, a legenda partiu para uma
ofensiva no ano passado sobre grandes empresas, a maior parte delas com
negócios milionários com o governo federal. Assim, conseguiu em 2011, um
ano sem eleições, R$ 50,7 milhões em doações, fechando as contas ainda
no vermelho, mas com a dívida bastante reduzida: R$ 6,4 milhões. O que o
PT arrecadou ano passado corresponde a aproximadamente 20 vezes o que o
PMDB e o PSDB, cada um, no mesmo período. De contribuição de seus
filiados, o PT contabilizou pouco mais de R$ 7 milhões.
A forte
arrecadação do ano passado permitiu que o partido reduzisse pesadamente o
déficit que cultivava há anos. Desde 2004, o PT vinha fechando as
contas com déficits superiores a R$ 25 milhões. À exceção de 2010 (R$ 44
milhões), a dívida atingiu seu maior valor, R$ 33,1 milhões, em 2006,
um ano depois do escândalo do mensalão.
A oposição acredita que
parte da arrecadação acabou sendo usada para a quitação da dívida do
mensalão. O pagamento dos empréstimos contraídos no Banco Rural foi
comunicado ao Supremo Tribunal Federal em março deste ano pela defesa do
ex-presidente do PT José Genoino — a dívida paga, segundo o comunicado
do partido, foi de R$ 8,3 milhões.
— Isso é uma afronta à pobreza
nacional, um prenúncio de imoralidade, pois não há como não estabelecer
uma relação de promiscuidade nessa generosidade — afirmou o líder do
PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), que levantou suspeita sobre o anúncio
do pagamento da dívida do Banco Rural. — Fizeram isso quando o
procurador-geral afirma que os empréstimos foram operações contábeis
fictícias para acobertar o desvio de dinheiro público. Na véspera do
julgamento do mensalão, o PT vale-se de doações generosas a pretexto de
saldar uma dívida que, segundo a PGR, não existiu. Fica a hipótese de
lavagem de dinheiro.
O que mais chama atenção na prestação de
contas apresentada pelo PT é o perfil dos doadores. Eles se dividem em
empresas que atuam essencialmente em quatro áreas: construção civil,
setor financeiro, energia e frigoríficos. Todos receberam atenção
especial do governo federal nos últimos anos.
Líder em doações ao
PT ano passado, a construtora Andrade Gutierrez fez cinco repasses,
totalizando R$ 4,65 milhões. No mesmo período, a construtora foi a
terceira que mais recebeu recursos do governo federal, um total de R$
393,2 milhões.
Segunda colocada da lista de doações, com R$ 4
milhões destinados ao partido, a Braskem é uma sociedade da construtora
Odebrecht com a Petrobras. Apesar de pouco conhecido, o grupo
Inepar/Iesa, com doações de R$ 3,5 milhões ao PT, atua em várias áreas
de interesse do governo federal, produzindo equipamentos para as
hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, e na manutenção e na
modernização das plataformas P-38, P-40 e P-51 e construção da P-53.
JBS é quinto maior doador do partido
Também
se destaca a doação feita pelo banco Bradesco. De acordo com a
prestação de contas do PT, a doação de R$ 3 milhões foi feita no dia 25
de abril, 35 dias antes do leilão do Banco Postal, que era a menina dos
olhos do Bradesco no governo federal. Desde 2001, a rede que oferece
serviços bancários nas agências dos Correios em todo o país era gerida
pelo Bradesco, mas em maio do ano passado ele acabou perdendo-a para o
Banco do Brasil.
O frigorífico JBS figura como quinto maior
doador do partido, com R$ 2,85 milhões. Nos últimos anos, o BNDES
destinou ao grupo do frigorífico um suporte de R$ 13,3 bilhões e hoje o
banco estatal é dono de cerca de 30% do capital do JBS. Há três semanas,
a holding que controla o frigorífico anunciou que comprará a Delta Construções, maior detentora de contratos no PAC e um dos alvos da CPI do caso Cachoeira.
Na
lista, há também empresas como a Agropecuária Santa Bárbara Xinguara,
que é ligada ao banqueiro Daniel Dantas, e doou R$ 1 milhão de reais
para o partido. Nos primeiros anos do governo Lula, Dantas travou uma
guerra aberta com os fundos de pensão controlados pelo PT.
Por
meio de sua assessoria de imprensa, o presidente do PT, Rui Falcão,
informou que “as doações feitas ao partido são todas legais e foram
devidamente registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE)”. Ele não
foi localizado para dar entrevista sobre o assunto.
A assessoria
do partido informou ainda que o secretário de Finanças e Planejamento do
PT, João Vaccari Neto, responderia a perguntas por e-mail. O GLOBO
enviou questionário perguntando o que o partido fez no ano passado para
conseguir reduzir o seu déficit financeiro histórico. Perguntou também
se o partido considerava algum conflito ético em quitar suas dívidas com
recursos de empresas diretamente interessadas em negócios do governo.
Até as 20h de ontem, não havia recebido resposta
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/pais/partido-dos-trabalhadores-teve-50-milhoes-em-doacoes-em-2011-5029151#ixzz1w3K1FfWU
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