Prestes a ser convocado pela CPI do Cachoeira,
Marconi Perillo, o governador tucano de Goiás, estrutura sua defesa no
aprazível município de Armação dos Búzios –ou simplesmente Búzios, como é
mais conhecido. Fica na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro, a cerca de
165 quilômetros da capital.
Perillo passa o final de semana na cidade. Seu advogado, Antonio
Carlos de Almeida ‘Kakay’ Castro, o mesmo que defende o senador
Demóstenes Torres, também voou de Brasília para Búzios. Juntos, repassam
as acusações e alinhavam as respostas.
Conforme já noticiado aqui,
o PT e seus aliados na CPI já contabilizam maioria de votos para
convocar Perillo. Articulam-se agora para tentar livrar da grelha os
outros dois governadores mencionados no Cachoeiragate: o petê Agnelo
Queiroz, do DF; e o pemedebê Sérgio Cabral, do Rio.
Como que rendido às evidências, Perillo reitera em privado que “faz
questão” de comparecer à CPI. Diferentemente de Cachoeira e de seus
operadores, que invocaram na CPI o direito de silenciar para não se
autoincriminar, o governador goiano informa que vai falar.
Na semana passada, antes de negar-se a responder às perguntas dos
membros da CPI, o ex-vereador tucano de Goiânia Wladimir Garcez fez uma
declaração que foi recebida como uma versão diferente da que havia sido
contada por Perillo. Envolve a venda de uma casa do governador. O imóvel
em que Cachoeira foi preso pela Polícia Federal, no dia 29 de
fevereiro.
Apontado pela PF como elo entre Cachoeira e Perillo, Garcez disse que
foi ele quem comprou a casa de Perillo. Negócio de R$ 1,4 milhão. Pagou
com três cheques. Na Operação Monte Carlo, a PF descobriu que os
cheques, nominais a Perillo, foram emitidos por um sobrinho do
contraventor Cachoeira.
Na versão de Perillo, a casa fora vendida ao empresário goiano Walter
Paulo, dono da Faculdade Padrão. Garcez disse na CPI que foi ele, não o
governador, quem repassou o imóvel ao dono da faculdade. Contou que,
como não conseguiu honrar os empréstimos que diz ter obtido junto a
Cachoeira e Cláudio Abreu, viu-se compelido a passar a casa adiante. A
PF suspeita que o verdadeiro comprador é Cachoeira. Investiga se o
dinheiro veio da Delta.
Se for convocado, como parece provável, Perillo dirá na CPI que não
há copntradição entre o que disse e o que declara o ex-vereador tucano,
preso há 89 dias. Sustenta que Garcez apresentou-se a ele como
intermediário do empresário Walter Paulo.
De resto, o governador afirma que o imóvel foi vendido a preço de
mercado e a transação foi registrada no Imposto de Renda. A escritura,
segundo Perillo, só foi passada depois da compensação dos três cheques. O
dinheiro caiu na sua conta bancária. No dizer do governador, uma
“prova” de que não há ilicitude no negócio.
E quanto à titularidade dos cheques? Perillo alega que um secretário
particular cuidou dos detalhes. Por isso, não viu os cheques. Não sabia
que provinham de um sobrinho de Cachoeira. Afirma também que nada teve a
ver com a cessão do imóvel para servir de moradia para o contraventor.
Mantida a disposição de falar, Perillo terá muitas outras explicações
a dar. Parte da polícia goiana estava a serviço da quadrilha de
Cachoeira, sua chefe de gabinete foi pilhada nos grampos da PF, o
contraventor controlava o Detran de Goiás e tinha influência em
secretárias da gestão tucana.
Em reunião com o generalato do PSDB, há duas semanas, Perillo
atribuiu a influência de Cachoeira na sua administração ao aliado
Demóstenes Torres. Alega que o senador dispunha de uma cota de
nomeações. E teria usado essa cota em proveito de Cachoeira.
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