Grupo
de especialistas do Centro de Informática da Universidade de Brasília
(UnB), coordenado pelo professor Diego Aranha, do Departamento de
Ciência da Computação, conseguiu quebrar a segurança de uma urna
eletrônica durante testes organizados esta semana pelo Tribunal Superior
Eleitoral (TSE). O time da UnB foi a único a identificar fragilidades
no sistema eleitoral entre nove equipes de especialistas de
universidades de todo o país que partiparam dos testes, realizados pelo
TSE com o objetivo de garantir a segurança do processo de votação
brasileiro.
A
equipe da UnB descobriu a ordem cronológica em que 474 eleitores
votaram em uma das urnas onde o teste foi realizado. A simulação
desenvolvida pela UnB, que envolveu todos os procedimentos adotados em
uma eleição, foi realizada com 475 "eleitores", o que representa um
índice de acerto de 99,9% pelo grupo da Universidade.
Os
especialistas da UnB não conseguiram identificar os autores do voto,
mas obtiveram os registros do horário exato de cada voto e revelaram que
candidatos esses eleitores escolheram. "Com um pouco mais de tempo,
pode ser que conseguíssemos descobrir também quem eram esses eleitores,
ou seja, quem votou em quem", afirmou Diego Aranha, que liderou a equipe
formada por Filipe Scarel, Marcelo Karam e André de Miranda, todos do
Centro de Informática da UnB.
Emília Silberstein/UnB Agência |
Equipe da UnB, da direita para a esquerda: Marcelo Karam, Filipe Scarel, Diego Aranha e André de Miranda |
O
desafio colocado pelo TSE era o de romper a segurança do voto. Isso
significa descobrir o nome dos eleitores e em quem votaram. Outro
objetivo colocado pelo Tribunal Superior Eleitoral foi o de alterar a
destinação dos votos de um candidato para outro, mas a equipe da UnB
optou por investir o tempo da prova para alcançar um único objetivo.
Nenhum
dos nove grupos que participaram atingiu as duas metas colocadas pelo
TSE. A atuação da UnB, entretanto, surpreendeu os organizadores dos
testes porque demonstrou que há fragilidades no sistema. “A equipe da
UnB conseguiu dar uma importante contribuição para melhorar a segurança
das eleições”, afirmou Rafael Azevedo, coordenador de Logística da
Secretaria de Tecnologia da Informação do TSE. “Os testes realizados
pela UnB são de alto impacto, de nível tecnológico avançado. Isso
permitiu mostrar ao TSE que o softwareprecisa
de melhorias”, explicou Wilson Veneziano, professor do Departamento de
Ciência da Computação da UnB e um dos organizadores do evento. “O grupo
foi o único a conseguir alterar a segurança da urna", completou.
O
número de votos utilizado na simulação equivale à média nacional de
votos por urna na eleição de 2010, já descontado o índice de
comparecimento, que é de 82%. Na simulação no TSE, cada eleitor votou em
candidatos a prefeito e vereador, o que significa dois votos por
eleitor.
FACILIDADES - Wilson
Veneziano ressalta que, embora a UnB tenha tido sucesso em descobrir a
ordem de votação e os candidatos que receberam votos, o feito não é
suficiente para fraudar uma eleição. Segundo ele, seria preciso que um hacker ficasse
guardando a ordem de votação de cada eleitor para que a violação fosse
possível, pois a lista que fica na mesa é arranjada em ordem alfabética.
O
secretário de Tecnologia da Informação do TSE, Giuseppe Janino, afirmou
que o Tribunal reforçou o sistema das urnas eletrônicas."O que a UnB
fez foi desvendar o algorítimo matemático que embaralha a ordem da
votação. O sucesso seu deu em parte pela alta competência da equipe, mas
também em razão das informações prévias oferecidas pelo TSE para os
testes", disse. As facilidade foram a entrega do código fonte do sistema
aos membros das equipes e explicações técnicas sobre o funcionamento do
sistema. Os participantes também podiam trazer de casa programas para
servir de ferramentas para os ataques. "Alteramos o algorítimo dando
maior complexidade", completou.
ESFORÇO - Para
garantir o sucesso, a equipe da UnB investiu toda a energia em um único
objetivo. A equipe não trabalhou com a proposta de obter meios de
favorecer um candidato. "Julgamos que a quebra do anonimato do voto era
algo mais factível de obtermos sucesso", lembrou Diego Aranha.
Antes
de ir para a simulação com os 475 eleitores, que ocorreu na
quarta-feira, 21 de março, a equipe da UnB realizou três simulações nos
dois dias anteriores, uma com 10 eleitores, outra com 16 e uma terceira
com 21. "Foi um grande desafio, porque aplicamos a metodologia que
usamos para um universo pequeno em uma simulação com alto número de
eleitores", afirma Diego Aranha.
Participam
dos testes nove equipes. Quatro são do Distrito Federal. As demais são
de São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Ceará.
Marcelo de Sousa, professor da Faculdade de Computação da Universidade
Federal de Uberlândia, afirma que, mesmo com boas condições de fazer os
testes, não conseguiu nenhum dado efetivo. “Sentimos uma alta
complexidade por conta dos vários níveis de segurança do sistema”,
afirma.
SEGURANÇA - Realizados
pelo TSE pela segunda vez desde 2009, os testes tem como objetivo
garantir segurança total no processo eleitoral brasileiro. Este ano, o
sistema eletrônico será novamente utilizado nas eleições municipais. "O
que conseguimos não representa um risco para as eleições porque está
dentro do objetivo dos testes, que é corrigir antecipadamente as
fragilidades do sistema", afirma Diego. "A vantagem dos testes é
justamente prevenir que uma fraude ocorra", explica Rafael Azevedo, do
TSE.
No próximo dia 29, o Tribunal fará audiência pública para prestar contas do evento, às 10h, na sede do órgão.
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