O mercado pratica 10%. É o normal, é o
praxe. Aí tem uma negociação melhorzinha e faz pra 15%”. A frase acima
mostra como funciona o esquema de propina que acontece na saúde pública
brasileira entre empresários e funcionários públicos. O repórter André
Luiz Azevedo, do Fantástico, trabalhou disfarçado por dois meses como
responsável pelo setor de compras do hospital de pediatria da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele mostra como é feito o
oferecimento de suborno para fraudar licitações de saúde pública.
Três dessas empresas são investigadas
pelo Ministério Público por diferentes irregularidades. E, mesmo assim,
receberam juntas R$ 500 milhões só em contratos feitos com verbas
públicas. Uma licitação correta termina com a abertura dos envelopes das
propostas para afinal se saber quem é o vencedor. Em uma licitação
fraudada, os envelopes acabam assim, lacrados, porque já se sabe quem
vai levar. A propina chega a atingir milhares de reais.
A Toesa Service, uma locadora de veículos, foi convidada para a licitação de aluguel de quatro ambulâncias. “Cinco. Cinco por cento. Quanto você quer?”,
pergunta de imediato o gerente Cassiano Lima. Falando em um código em
que a palavra “camisas” se refere à porcentagem desviada, ele aumenta a
propina. “Dez camisa [sic], então? Dez camisa?“. David Gomes,
presidente do conselho da Toesa, garante que o golpe é seguro e, o
pagamento, é realizado em dinheiro ou até mesmo em caixa de uísque e
vinho. A Toesa ganharia R$ 1,680 milhão pelo contrato. “Eu vou colocar o meu custo, você vai falar assim: ‘Bota tantos por cento’. A margem, hoje em dia, fica entre 15 e 20“,
explicam Carlos Alberto Silva e Carlos Sarres, diretor e gerente da
Locanty Soluções e Qualidade, convidada para a licitação de coleta de
lixo hospitalar.
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