Um simulador que calcula o percentual ideal do orçamento dos municípios
que deveria ser investido na educação, para que o ensino alcance níveis
desejáveis de qualidade, foi desenvolvido na Faculdade de Administração e
Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP).
O
programa de computador é resultado da tese de doutorado de Thiago Alves
que, hoje, é professor do curso de administração na Universidade Federal
de Goiás. Para chegar ao produto final, Thiago conta que partiu da
pergunta: “Quanto custa a educação pública gratuita e de qualidade no
Brasil?”. “A ideia surgiu desse questionamento, e aí a gente percebeu
que os investimentos na educação não partem de um planejamento. Existe,
na verdade, o que a Constituição diz”, explicou o pesquisador.
Com
base em comparação que fez em relação aos países desenvolvidos, Thiago
observou que, enquanto no exterior calcula-se quanto é necessário
investir nas escolas para o fornecimento de um serviço de qualidade e, a
partir daí, o recurso é investido, no Brasil a ordem era contrária. “A
pergunta tem que ser inversa. Quanto precisa? E aí nós vamos mobilizar
recursos da sociedade, porque a educação é um direito fundamental, porta
de entrada para outros direitos do cidadão”, disse.
Na confecção
do software, o pesquisador utilizou como fonte dados da Prova Brasil e
do Censo Escolar, como desempenho dos alunos, condições de bibliotecas,
quadras, banheiros, laboratórios, existência de computadores, além de
quantidades de alunos e professores nas escolas para estabelecer
diretrizes.
Segundo a orientadora do projeto, Cláudia Souza
Passador, professora de administração pública, a tese de Thiago faz
parte de uma grande pesquisa, que contou também com outras quatro
dissertações de mestrado. O projeto foi financiado pelo Observatório
Nacional de Educação, em parceria com a Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (Capes) e começou em 2007.
As
pesquisas de campo, de acordo com Cláudia, envolveram centenas de
gestores escolares, professores e pais de alunos. “A gente não quis dar
uma visão apenas economicista. O salário dos professores influi, as
condições físicas na escola influem. Contemplamos o máximo de
diretrizes”, explica Cláudia.
O programa foi testado em três
municípios goianos: Cezarina, Goiatuba e Águas Lindas. Após os estudos,
Águas Lindas, que possui cerca de 150 mil habitantes, foi a cidade com
resultados mais preocupantes, devido ao grande déficit educacional
constatado. “Os resultados mostraram que precisaria construir muitas
escolas, precisaria investir mais da metade, quase a totalidade da
receita [do município] em educação”, disse Thiago. Segundo o
pesquisador, o município tem muitos problemas sociais em razão do seu
rápido crescimento, “inclusive na área educação”, acrescentou.
Em
Goiatuba, que tem uma população mais estabilizada, com 30 mil
habitantes, as escolas têm aulas em período integral, com sete horas
diárias. “Mesmo assim, [a cidade] precisaria investir quase 40% da
receita”. O mesmo percentual, de 40%, deveria ser investido por
Cezarina, cidade com cerca de 7 mil habitantes.
Tendo em vista
essas disparidades, a proposta de que o governo brasileiro invista 10%
do seu Produto Interno Bruto (PIB) na educação pode não atender de forma
igualitária as localidades brasileiras, argumentou Thiago. “As
condições da educação pública no Brasil são diversas. Cada estado, cada
município tem os seus próprios desafios”, disse.
De todo modo,
aumento de investimentos no setor são essenciais, na opinião de Cláudia.
“Nós chegamos à conclusão de que, de uma forma geral, as prefeituras,
governos de estado e governo federal têm que investir 30% a mais do que
investem hoje”.
O simulador de custos foi entregue ao Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) em agosto. A
expectativa dos pesquisadores é que o programa possa ser oferecido
gratuitamente aos gestores municipais de todo o país. “O momento é
oportuno, porque, em janeiro, começam novas gestões em secretarias
municipais”, acrescentou Thiago.
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