Os estudantes do 3º ano do ensino médio do Centro Educacional 1 do
Cruzeiro, em Brasília, aguardam ansiosos a hora de fazer o
Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)
. Para eles, há um novo estímulo para resolver as questões e a redação
que serão aplicadas neste sábado e domingo, a partir das 13h (horário de
Brasília). Mais do que nunca, a entrada na universidade parece mais
próxima.
A explicação está na lei nº 12.711, sancionada pela presidenta Dilma Rousseff em agosto, que cria cotas de 50% das vagas para egressos da rede pública
em todas as instituições federais. Hoje, pelo menos 115 instituições
utilizam as notas do Enem para selecionar universitários. Só no
Sistema de Seleção Unificada (Sisu)
serão oferecidas pelo menos 120 mil vagas.
“É um estímulo a mais, com certeza. E acho que quando
todas as vagas do sistema de cotas forem oferecidas, mais gente ainda
vai se candidatar”, afirma Milena de Souza Faria, 17 anos. Aluna do CED 1
do Cruzeiro, ela recorda que a lei será cumprida gradualmente. Este
ano, as universidades são obrigadas a reservar 12,5% das vagas para as
cotas, pelo menos.
Milena e os colegas Jéssica de Albuquerque, 17,
Alessandro Campos, 17, Pedro Matta, 18, Mateus dos Reis, 17, e Mylena
Araújo, 18, sentem que a medida é uma “valorização tardia da escola
pública”. Mas se dizem animados com a medida. “A prioridade sempre foi
de quem tem mais. A universidade pública deveria ser para aluno de
escola pública”, afirma Pedro.
Os alunos se preparam com mais ânimo, mas sabem que o
desafio imposto pelo Enem não é simples. No primeiro dia, sábado, eles
enfrentarão quatro horas e meia para responder questões de ciências
humanas e ciências da natureza. No domingo, farão as provas de
linguagens e códigos, matemática e redação. São cinco horas e meia de
avaliação.
“É uma prova muito longa, dá medo de não conseguir
terminar”, comenta Jéssica. Para Mateus, é difícil saber o que esperar
dos testes e, por isso, a ansiedade é grande. “O conteúdo não é difícil.
O difícil é ela ser tão cansativa”, analisa Mylena.
Outros 1,2 milhão de estudantes que estão concluindo o
ensino médio na rede pública vão fazer o Enem este ano. Ao todo, 5,7
milhões de candidatos se inscreveram no exame. Desse total, 4 milhões
ganharam isenção da taxa (o que significa que boa parte deve ter
estudado na rede pública, mas alunos de baixa renda também não pagam).
Preocupação com a concorrência
Se os egressos da rede pública têm um ânimo extra para
fazer as provas com a aprovação da lei das cotas, os alunos da rede
privada ganharam preocupação. Com as vagas divididas, eles temem um
grande aumento da concorrência em cada uma delas. Marina Krumholz, 17
anos, aluna do Colégio Israelita Brasileiro A. Liessin, no Rio de
Janeiro, diz que é um desafio a mais.
“Com certeza, é um nervosismo e um desafio a mais. As
vagas até mesmo nas faculdades particulares ficam mais concorridas
porque alguns deixam de fazer pública e optam pela particular porque
ficou muito difícil”, avalia. Para Luisa Newlands, 17, estudante da
Escola Eliezer Steinbarg Max Nordau, também no Rio, o cenário será ruim
no futuro.
“A UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) está
adotando só 30% das vagas para cotas, então agora não vai ser tão
difícil como depois que adotarem 50%”, analisa. Luisa não concorda com
as cotas, porque acredita que o problema não é o acesso à faculdade, mas
a qualidade da educação.
Laura Becker, 17, que pretende disputar uma das vagas
oferecidas pela UFRJ em Administração, também é contra a política de
cotas. Estudante da Escola Parque, do Rio de Janeiro, ela acredita que a
medida não resolve a situação vivida pelos alunos da rede pública. E
nem dos negros, também beneficiados dentro da lei.
“Deve ser muito frustrante para quem estuda na escola
pública tentar correr atrás, mas não conseguir vaga. A culpa não é
deles, a culpa é do governo. As cotas dão uma chance para eles, mas o
governo não deveria mudar o sistema para entrar na universidade e, sim, a
educação”, diz. “Não necessariamente negro estuda em escola pública.
Tem três negros na minha sala que é uma escola de classe média alta. Com
certeza vão entrar”, afirma.
Números impressionantes
A operação logística que envolve o Enem impressiona pelos
números. Para controlar o envio das provas aos 15 mil locais onde serão
aplicadas, foram mobilizados o Exército, a Polícia Federal, a Polícia
Rodoviária e a Polícia Militar. Quase 20 mil agentes de escolta
das secretarias de Segurança Pública de todos os estados também vão
trabalhar no processo e o Ministério da Educação fechar 10 mil malotes
de provas com lacres eletrônicos em caráter experimental.
Dos 5,7 milhões de estudantes que vão as provas, 54% dos
inscritos se declararam pretos, pardos ou indígenas. Esse é o perfil do
recorte racial que deve ser feito dentro do programa de cotas das
universidades. A grande maioria é formada por mulheres: 3,4 milhões
(59%). São Paulo é o Estado com mais inscritos (932.493); seguido por
Minas Gerais (653.074) e Bahia (421.731).
A maioria dos participantes já concluiu o ensino médio:
3,2 milhões. Pouco mais de 1,5 milhão está concluindo este ano e 638 mil
buscam uma certificação de conclusão da etapa com o exame.
Para que serve o Enem
O Enem tem múltiplas funções:
- Selecionar estudantes para universidades pelo Sisu e Prouni
- Critério para participação em programas governamentais como o financiamento estudantil (Fies) e o Ciência sem Fronteiras
- Certificação de conclusão do ensino médio
- Avaliação da qualidade do ensino médio no País (e nas escolas)
- Auto-avaliação do desempenho acadêmico do aluno
Nenhum comentário:
Postar um comentário