Documento descoberto no Arquivo Nacional traz esta revelação...
Um documento descoberto agora no Arquivo Nacional (graças à Lei do
Acesso, que pôs fim ao sigilo eterno) e trazido a público pelo repórter
Alex Rodrigues, da Agência Brasil, informa que meses antes das eleições
presidenciais chilenas de 1970 os militares brasileiros já previam que
as FFAAs reagirião a uma eventual vitória de Salvador Allende, como de
fato aconteceu em 1973.
Os documentos que estão vindo e continuarão a vir à tona só
comprovarão a participação e o apoio da ditadura brasileira ao golpe
militar no Chile, promovido pelos Estados Unidos e que o apoiaram
abertamente. Está tudo documentado nos arquivos abertos, lá como aqui,
agora. A diferença é que aqui, ao contrário do que aconteceu lá e d os
demais países latino-americanos, os militares ficaram impunes até agora.
E continuam a buscar a eternização da impunidade.
Outro ponto importante a notar na atualidade é que os EUA, a direita,
os militares e a mídia conservadora não estão parados. Continuam se
articulando para derrubar governos eleitos democraticamente que não se
submetem aos seus interesses, como acabamos de assistir em Honduras e no
Paraguai. Agora com novos métodos. Como tentaram aqui em 2005 e não
conseguiram.
E sempre também com o apoio da mídia conservadora do continente. Que –
não devemos nos esquecer jamais – apoiou de forma entusiástica o golpe
sangrento de Pinochet, assim como o golpe civil-militar aqui no Brasil,
em 1964. São os dois braços dos interesses dominantes: o braço armado e o
braço midiático.
O que diz o documento
A presença do Chile socialista na OEA, diz o documento, era vista
como ameaça à segu rança continental. Nesse documento – um dos milhares
elaborados pelo Estado Maior das Forças Armadas (EMFA), extinto com a
criação do Ministério da Defesa – confirma, assim, que a situação
política interna do Chile ocupava a atenção dos militares e diplomatas
brasileiros desde antes de Allende chegar ao poder pelo voto popular.
Os militares e diplomatas alegavam temer pela segurança da embaixada e
dos representantes brasileiros que trabalhavam no país vizinho, onde a
tensão política aumentava na medida em que cresciam as chances de ser
eleito e empossado democraticamente um primeiro presidente socialista no
continente.
“A situação (chilena) é muito grave face à conjuntura mundial e,
principalmente, a da América Latina, se considerarmos os rumos que
poderá tomar em setembro próximo, por ocasião das eleições presidenciais
chilenas”, pondera o então cel. Luiz José Torres Marques. No documento,
o cel. relata a superiores u ma reunião realizada na embaixada
brasileira no Chile, em maio de 1970, e da qual participaram todos os
secretários e adidos militares da representação, além do embaixador
Antÿnio Cândido da Câmara Canto. Este, depois de 1973, revelou-se
notório colaborador do regime de Pinochet.
No documento esse cel. afirma que o candidato do Partido Nacional, o
empresário e ex-presidente da República Jorge Alessandri (1958/1964),
“um homem austero e digno”, era o preferido da “classe mais elevada da
população chilena e daqueles que não desejam ver o comunismo implantado
no país”. Para o brasileiro, se Alessandri vencesse as eleições por
maioria absoluta, o Chile “continuaria com um governo democrático”.
O coronel, contudo, não descartava nem a hipótese de Alessandri
vencer por maioria relativa e o Congresso acabar referendando a vitória
de Allende, nem a de o socialista vencer por maioria relativa e terminar
empossado. Em ambos os ca sos, concluía Marques, as prováveis
consequências seriam as mesmas: a eclosão de um movimento militar a fim
de impedir Allende de governar.
O cel. se queixa, ainda, que os representantes diplomáticos
brasileiros em Santiago viviam em clima de insegurança e desconforto,
que ele atribuia à presença de milhares de refugiados brasileiros que
buscaram asilo político no Chile após o golpe militar de 1964 .
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