Agentes da Polícia Federal cumpriram mandados de busca e apreensão ontem
no gabinete da Presidência da República em São Paulo, na
Advocacia-Geral da União (AGU), em duas agências reguladoras, em um
ministério e na sede dos Correios. Seis pessoas foram presas, sendo dois
funcionários públicos de alto escalão, e 18 indiciadas na Operação
Porto Seguro, desencadeada ontem pela PF, em parceria com o Ministério
Público Federal (MPF). Os agentes desarticularam uma organização que
agia em órgãos federais pagando propina por pareceres técnicos
fraudulentos. Entre os indiciados, estão o advogado-geral adjunto da
União, José Weber Holanda Alves, e a chefe de gabinete da Presidência da
República em São Paulo, Rosemary Nóvoa de Noronha.
José Weber e
Rosemary foram indiciados ontem após serem ouvidos pela PF. Ele prestou
depoimento depois que policiais apreenderam documentos em seu gabinete,
que tem acesso direto à sala do advogado-geral da União, Luís Inácio
Adams. A AGU abriu investigação interna sobre a conduta de Weber. Em seu
currículo, suspeitas de envolvimento em denúncias de desvio de dinheiro
público já o derrubaram do primeiro escalão do órgão em 2003. Ele
voltou à AGU em 2009, a convite de Adams, que se reuniu ontem com sua
equipe para discutir o impacto da operação da PF.
Além dos dois
altos funcionários do governo, 16 pessoas foram indiciadas por
diferentes crimes, como corrupção ativa e passiva, violação de sigilo
funcional, falsidade ideológica, falsificação de documento particular e
tráfico de influência.
Segundo a PF, o núcleo da organização era
composto pelas seis pessoas presas ontem. Os servidores públicos são os
irmãos Rubens Vieira e Paulo Vieira, diretores de Infraestrutura
Aeroportuária da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e de
Hidrologia da Agência Nacional de Águas (ANA), respectivamente, que
teriam sido indicados para os cargos por Rosemary. O outro irmão deles, o
empresário Marcelo Vieira, também foi preso preventivamente. Os
advogados Patrícia Santos Maciel de Oliveira, Marcos Antônio Negrão
Martorelli e Lucas Henrique Batista foram detidos temporariamente.
Patrícia foi solta logo depois.
Os seis são acusados de formação
de quadrilha. De acordo com o delegado Roberto Troncon Filho,
superintendente regional da PF em São Paulo, a organização corrompia
funcionários de outros órgãos federais. “(A quadrilha) prestava serviço a
empresários que tinham interesse na aceleração de processos e, até
mesmo, na formulação de pareceres técnicos fraudulentos, mediante
pagamento e outros benefícios.”
O delegado disse que a
organização cooptou funcionários da Anac, da ANA, da Agência Nacional de
Transporte Aquaviários (Antaq), da Secretaria de Patrimônio da União,
do Tribunal de Contas da União (TCU), da Advocacia-Geral da União (TCU),
da Advocacia-Geral da União (AGU), dos Correios e do Ministério da
Educação (MEC). Foram cumpridos 43 mandados de busca e apreensão nesses
órgãos e em residências em Brasília, São Paulo, Cruzeiro (SP), Dracena
(SP) e Santos (SP).
As investigações começaram em março do ano
passado, depois de denúncia de um servidor do TCU. De acordo com
Troncon, esse servidor revelou ter sido procurado por um dos integrantes
da organização para fazer um parecer técnico fraudulento, com a
promessa de receber R$ 300 mil. Chegou a ganhar R$ 100 mil da quadrilha.
Porém, arrependeu-se, devolveu o dinheiro e procurou a PF, que
constatou que aquele não era um caso isolado. “Os dois servidores (os
irmãos Vieira) tinham a função de identificar e contatar funcionários de
outros órgãos federais. Os demais integrantes se encarregavam dos
contatos com grupos empresariais ou pessoas físicas interessadas em
vantagens ilegais na administração pública federal.”
O delegado
destacou que os superiores dos funcionários públicos envolvidos não
sabiam das negociações criminosas e que os órgãos federais colaboraram
“prontamente” com a ação da PF. Segundo Troncon, independentemente dos
documentos apreendidos ontem, a PF já tem provas “robustas” para fechar
as investigações, que serão concluídas em 60 dias.
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