Em mais uma votação da "agenda positiva" fixada pelo Congresso em
resposta às ruas, a Câmara dos Deputados estabeleceu na madrugada desta
quarta-feira (25) que 75% das receitas do petróleo serão destinadas para
a educação. O projeto original, enviado pela presidente Dilma Rousseff
ao Congresso em maio, previa 100% do montante para o setor.
Pela alteração realizada pelos deputados, os outros 25% desses recursos
irão agora para a saúde. A norma terá efeito para União, Estados e
municípios.
As regras valem para os recursos dos royalties e da participação
especial referentes aos contratos firmados a partir de 3 de dezembro do
ano passado, sob os regimes de concessão e de partilha de produção de
petróleo. O texto segue para análise do Senado.
Foi estabelecido ainda que essa medida também será aplicada para
contratos anteriores a essa data que ainda não tiverem a "declaração de
comercialidade", que atestaria que já há produção.
Segundo o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), não há compromisso do Planalto com a medida.
"Fatalmente vai repercutir em contratos já assinados. Com toda boa
vontade, essa decisão pode derrotar o projeto Inteiro. Nos não temos
compromisso com esses aspectos, se vierem a ser aprovados", afirmou.
Os deputados ainda fizeram outra alteração no trecho que determina que
50% dos rendimentos do fundo social do pré-sal, uma espécie de poupança
dos recursos da exploração do petróleo, também devem ser direcionados
para o setor. O relatório aprovado estabelece que metade de todos os
recursos do fundo serão aplicados em educação e não apenas os
rendimentos.
Foi estabelecido ainda um gatilho para o uso desses recursos. A
totalidade dessa parte do fundo será usado até o país conseguir alcançar
a meta estabelecida no Plano Nacional de Educação para o setor, que é
de 7% do PIB (Produto Interno Bruto) para o setor em cinco anos e 10%
até o final da década. O PNE ainda está em discussão no Senado.
Atualmente, esse percentual é de cerca de 5%.
Criado em 2010, o objetivo do fundo é financiar "programas e projetos
nas áreas de combate à pobreza e de desenvolvimento", segundo lei que
trata do assunto. O governo avalia que essa regra pode provocar um
aumento inflacionário e pode até mesmo afetar a indústria nacional.
O relator da matéria, deputado André Figueiredo (PDT-SP), considerou a
proposta "tímida" e chegou a sugerir em seu substitutivo as mudanças que
foram confirmadas pelos líderes partidários. O texto foi costurado nas
últimas horas no plenário.
Segundo Figueiredo, com as mudanças aprovadas, os investimentos em
educação e saúde devem alcançar na próxima década R$ 280 bilhões.
"Quando quantificamos [o projeto original], não representa nada para a
educação", reclamou o relator na tribuna da Casa. O texto também não
agradou entidades da educação.
Em reunião anteontem com governadores e prefeitos, Dilma cobrou a
aprovação da medida pelo Congresso como forma de melhorar o setor. Para a
oposição, a movimentação de Dilma é uma "cortina de fumaça" porque não
terá efeitos imediatos.
Entidades de educação, como a UNE (União Nacional dos Estudantes),
comemoraram a medida. "Esse entendimento foi excelente diante do projeto
inicial, que tinha um mérito da iniciativa, mas era insuficiente para
cumprir a meta", afirmou Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional
pelo Direito à Educação.
SAÚDE
A destinação de 25% dos recursos dos royalties do pré-sal para a saúde
foi comemorada por congressistas que acompanham o tema na Câmara dos
Deputados. "As pessoas precisam de saúde para estudar e o orçamento está
ficando estreito", disse o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS),
presidente da Frente Parlamentar da Saúde.
Perondi argumenta que, cada vez mais, Estados e municípios arcam com
despesas com a saúde, em detrimento da União. "Quem está gastando mais
são os primos pobres."
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