Um grupo de 28 empresas e famílias que exploram portos no Brasil injetou
pelo menos R$ 121,5 milhões em campanhas eleitorais e na direção de
partidos políticos em apenas três anos, de 2010 a 2012.
As empresas tinham interesses diversos na discussão da Medida Provisória
dos Portos, proposta de alteração das regras do setor apresentada pelo
governo Dilma no fim de 2012 e aprovada no Congresso na semana passada.
Parte dessas companhias defendia desde o início as alterações por
acreditar que abririam espaço para novos negócios. Entre elas estão
nomes como Odebrecht, Triunfo e o grupo de Eike Batista.
Do outro lado estavam companhias como Santos Brasil e Libra Holding,
operadoras de terminais que temiam perder espaço. Nos bastidores, as
empresas tentaram inserir mudanças no texto quando perceberam que a
medida seria aprovada.
Duas entidades operaram o lobby no Congresso: a ABTP, dos terminais
portuários, e Abratec, dos terminais de contêineres. Os presidentes da
ABTP, Wilen Manteli, e da Abratec, Sérgio Salomão, estiveram no
Congresso e conversaram com parlamentares ao longo da votação.
Outro nome do lobby empresarial foi Richard Klien, sócio do grupo
Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas, na Santos Brasil. A empresa
administra o maior terminal de contêineres do país e registrou no ano
passado uma receita de R$ 1,3 bilhão.
A Folha apurou que, nos dias que antecederam a votação da MP, Klien
manteve conversas com líderes políticos em Brasília. Procurada, a
assessoria do empresário não havia confirmado nem negado a informação
até a conclusão desta edição.
Klien e seus familiares doaram R$ 3,6 milhões como pessoas físicas.
Desse total, metade foi para o comando nacional do PMDB. Klien é antigo
apoiador do senador José Sarney (PMDB-AP).
O grupo empresarial sob controle de Dantas, que inclui o banco
Opportunity e a Agropecuária Santa Bárbara, doou mais R$ 3,9 milhões,
97,4% dos quais para a Direção Nacional do PT.
O maior doador do setor de portos foi o grupo Odebrecht, com R$ 66
milhões. O PT recebeu 36% desse volume, seguido por PSDB (28,5%) e PMDB
(22%).
A Libra Holdings direcionou 57,5% de suas doações para o PSB, partido do
ministro Leônidas Cristino (Secretaria Especial de Portos).
O valor doado pelo setor de portos nesses três anos equivale a tudo o
que foi arrecadado pelos prefeitos eleitos de 26 capitais em 2008, em
valores nominais.
O setor de planos de saúde doou, no ano de 2010, R$ 11,8 milhões por
meio de 48 empresas, segundo estudo de pesquisadores da UFRJ e da USP.
OUTRO LADO
O presidente da Associação Brasileira dos Terminais Portuários (ABTP),
Wilen Manteli, afirmou à Folha que as doações não ajudaram no diálogo
com o Congresso sobre a Medida Provisória dos Portos.
Segundo ele, as empresas ou seus sócios fazem repasses aos partidos de
forma independente, sem discutir com a associação. "As doações são
feitas pelas empresas. Isso está fechado a sete chaves. Nem sei como a
turma faz isso. É algo que nunca discutimos."
A Santos Brasil afirmou, por meio da assessoria, que "não faz lobby e
nunca atuou para derrubar ou mudar a MP". A empresa disse que considerou
a medida positiva e "está pronta para aproveitar as oportunidades de
negócio criadas pelo novo modelo portuário".
A Odebrecht afirmou, também por meio da assessoria, que "faz suas
doações em prol da democracia e do desenvolvimento econômico e social do
país" e classificou a medida como "um marco histórico no esforço do
país para superar os entraves ao nosso desenvolvimento".
O grupo Libra disse que as doações de campanha da empresa e de
acionistas foram registradas e feitas "em função da identificação com
programas dos partidos e relacionamentos de longo prazo".
A empresa afirmou que é favorável à medida em "todos os seus aspectos que estimulam os investimentos e aumentam a concorrência".
(ANDREZA MATAIS, BRENO COSTA, DIMMI AMORA E RUBENS VALENTE)
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