Com uma pauta de 13 reivindicações, cerca de 1.500 manifestantes da 9ª
Jornada Estadual de Luta da Agricultura Familiar e Reforma Agrária se
encontraram em frente a Governadoria, no Centro Administrativo, para
chamar a atenção do governo estadual para a necessidade de obras de
convivência com a seca e preparar o setor rural para os períodos de
inverno. Como a governadora Rosalba Ciarlini encontra-se na região
Oeste, o grupo de manifestantes desviaram da governadoria e se
concentrou em frente a Secretaria Estadual da Agricultura, da Pecuária e
da Pesca, para entregar a pauta e tentar uma audiência com o secretário
José Teixeira de Souza Júnior.
O coordenador da Federação dos
Trabalhadores na Agricultura Familiar, João Cabral, disse que além dessa
pauta anual, existe uma preocupação com os avanços para o setor, vez
que em 2014 será comemorado o “Ano Internacional da Agricultura
Familiar”, que responde por 60% dos alimentos produzidos no Brasil.
Entre
as reivindicações dos agricultores familiares estão a perfuração de 550
e restauraçao de 250 poços tubulares nos 50 municípios da base sindical
da Fetraf, situados, sobretudo, nas regiões do Potengi, Oeste, Trairi,
Seridó, Mato Grande e, inclusive, na área canavieira, que ocupa grande
parte zona litorânea do Rio Grande do Norte.
A Fetraf também pede
a distribuição de 20 mil toneladas de milho para os agricultores
familiares, conclusão das obras da Central de Comercialização, vizinho à
Ceasa, em Lagoa Nova; pagamento imediato da cota estadual do Programa
do Garantia Safra 2013, para que seja viabilizado o pagamento do
benefício aos agricultores já a partir de julho.
Outras
solicitações são as ampliações do sistema de adutoras em Bento Fernande
e São Miguel do Gostoso, instalação de 80 desssalinizadores e
realização de concurso público e contratação de servidores para órgãos
envolvidos com o campo, a fim de melhorar e oferecer estrutura e
condições de assistência técnica rural.
Francisco Serafim Dias,
73 anos, já é aposentado como agricultor, mas continua na labuta diária
do campo. “Nasci dentro da agricultura, só vou parar de trabalhar quando
morrer”, disse ele, que reside na área urbana de Santo Antonio e
arrenda glebas de terra a um latifundiário daquele município da região
Agreste para complementar a renda advinda do plantio de “fava moitada”.
Caicoense
de origem - “meu pai era da Polícia Militar, foi transferido em 1960
para Santo Antonio e também plantava para criar a famíllia” -, Francisco
Serafim disse que no ano passado ainda colheu umas três sacas de favas,
daquelas “que é pintadinha”, porém, este ano “não deu nada”.
Serafim
disse que este ano plantou quatro mil covas de grãos, mas perdeu tudo.
Mesmo assim, ele ainda confia que até o fim de maio caia uma chuvinha e
assim possa plantar e colher alguma coisa pro São João.
João
Queiroz é agricultor e ainda não se aposentou porque não tem idade:
“Tenho 55 anos”. Com a estiagem, ele disse que a familia está
sobrevivendo por causa de um filho que trabalha fora e ajuda “e minha
mulher tem um emprego de merendeira na prefeitura de Campo Redondo”.
Queiroz
afirmou que chegou a plantar quatro quilos de feijão e milho nas
primeiras chuvas que cairam no sítio Malhada Vermelha, mas não houve
colheita. “Se chover no fim do mês vou plantar dois quilos de feição e
dentro de dois meses colho alguma coisa”, confia ele.
Além disso,
Queiroz explicou que aquelas frutas vendidas por barraqueiros à margem
da BR-226, na Serra do Doutor, em Campo Redondo, “vem tudo de fora”,
porque as fruteiras perderam tudo e só tem alguma produção de jaca na
Serra Verde. “Teve gente que perdeu 62 pés de coqueiro”, contou ele.
O
presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Familiar de
Cerro Corá, João Alexandre, disse que na Serra de Santana, a principal
fonte de renda dos agricultores do município e ainda de Lagoa Nova e
Tenente Laurentino Cruz, “só 5% dos agricultores estao obtendo alguma
renda com a mandioca”, cuja escassez elevou para R$ 6,00, o quilo de
farinha, uma das principais iguarias da mesa do sertanejo.
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