DivulgaçãoApesar da história regional, o livro publicado em 1968 se torna universal por tratar de temas comuns com humanismo
É verdade que o livro alcançou esse número extraordinário ao longo de quase meio século, ou seja, atravessando gerações. Mas, se o boca a boca funcionar, Bernstein e Katia podem sonhar com o sucesso. Será merecido. E o importante é que o filme é bom. Bernstein tem currículo. Coescreveu, com João Emanuel Carneiro (autor de “Avenida Brasil”), o roteiro de “Central do Brasil”, de Walter Salles. Dirigiu “Do Outro Lado da Rua”, com Fernanda Montenegro e Raul Cortez. Que ninguém espere dele uma versão derramada da história do menino que foge da miséria de sua pequena vida refugiando-se no mundo da imaginação. Zezé elege a árvore do título como amiga (e confidente). A versão de 1970, de Aurélio Teixeira, carregava nos sentimentos para arrancar lágrimas. Bernstein chega a ser minimalista. Ele diz que nunca viu “O Corvo Amarelo”, clássico japonês (de Heinesuke Gosho), famoso pelo uso da cor, também sobre a infância carente, do qual seu filme parece herdeiro.
A história é regional e vira universal por sua humanidade. “Meu Pé de Laranja Lima já participou de festivais no exterior e, em toda parte, o público se interessa pelos personagens, se comove com a narrativa”, conta Bernstein. “No Festival de Roma, foi escolhido por um júri de jovens como o melhor filme infantojuvenil.” E tem mais. “A história de Zezé é um triunfo da imaginação. Para quem vive de contar histórias, como eu, seja como roteirista ou diretor, tem tudo a ver.” Era um filme cheio de desafios. Criança, árvore, não falta nem mesmo um trem como personagem decisivo na trama. “O trem, como a própria árvore, é essencial. Como se faz isso? Filmei com o mesmo sentimento com que escrevemos, Melanie e eu. Mas o filme não seria tão bom sem esse elenco maravilhoso.” Bernstein conseguiu reunir atores como José de Abreu, Fernanda Viana (do Grupo Galpão), Caco Ciocler. O grande achado foi o garoto João Guilherme Ávila, que faz Zezé.
“Ele é ótimo. Fizemos uma preparação, mas quando chegava a hora de filmar dava para ver a entrega”, diz o diretor. O garoto retribui os elogios. “Foi muito legal fazer o filme com todos esses grandes atores. Foram generosos comigo. É muito bom poder dizer que fiquei amigo do Zé, do Caco.” Zé de Abreu vem de um dos maiores sucessos de sua carreira - o Nilo da novela “Avenida Brasil”. Ele se surpreende com o alcance da novela. “Filmamos antes do estouro de Avenida Brasil. Teria sido muito mais complicado, se o filme tivesse sido feito durante, ou depois.” As filmagens foram realizadas em Cataguases, interior de Minas, onde o pioneiro Humberto Mauro iniciou, nos anos 1920 e 30, um ciclo fundamental do cinema brasileiro.
MEU PÉ DE LARANJA LIMA Direção: Marcos Bernstein. Gênero: Infantil (Brasil / 2012, 97 min). Classificação: 10 anos.
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