A honestidade é considerada uma das maiores virtudes, mas, em
excesso, é capaz de trazer problemas. Polêmicas não faltam na carreira
do lateral camaronês Benoit Assou-Ekotto, que ficou conhecido nesta Copa
após agredir com uma cabeçada o companheiro de equipe Moukandjo na
partida de sua seleção diante da Croácia.
Muito antes do golpe
dirigido ao colega de equipe, Ekotto – ou Benni, como é conhecido pelos
torcedores do Tottenham, clube que defende – ganhou fama na Inglaterra
por seu comportamento fora de campo. O lateral costuma causar estrago
com as palavras, sendo brutalmente honesto ao expor opiniões e verdades
de forma incomum para um jogador de futebol.
Amor à camisa,
atletas que beijam o escudo de seus clubes ou se dizem torcedores desde
que eram crianças são coisas que Ekotto despreza. Em várias entrevistas a
veículos de mídia britânicos em 2010, admitiu, sem nenhuma cerimônia,
que joga futebol apenas por dinheiro.
"Se eu jogo bola com meus
amigos, posso amar futebol. Mas por que vim para a Inglaterra, sem
conhecer ninguém e sem falar inglês? É um emprego" disse. "Não sei
porque todos mentem. Quando você aceita um emprego, é pelo dinheiro.
Todo jogador é assim. E se você beija a camisa, diz que é um sonho, e
sai seis meses depois? Não entendo quem fica chocado quando digo que
jogo por dinheiro. Futebol não é minha paixão", disse ao jornal The Guardian.
Assim como sua paixão por futebol, seus amigos de verdade estão fora do
futebol. Benni não tem nenhum pudor em admitir que não tem amigos de
verdade no trabalho, e ainda vai além: não acredita em amizades no
futebol.
"Chego no CT às 10h30 e começo a ser profissional.
Termino às 13h, e não jogo mais futebol. Sou como um turista em Londres:
eu ando pela cidade, eu como", contou. "Não tenho problema com ninguém,
mas não tenho o telefone de jogadores. Não ligo para meus companheiros
de time. Não acredito em amizades no futebol".
A honestidade na
relação fria e profissional com o futebol não é a única posição polêmica
de Ekotto. Filho de um pai camaronês, o lateral esquerdo nasceu e
cresceu na França, mas optou por atuar por Camarões. A resposta é bem
direta.
"Não tenho nenhum sentimento pela seleção francesa. Não
existe" disse. "A França, em seu coração, tem um problema, e tem sido
incapaz, ou simplesmente desinteressada em adotar os filhos de suas
ex-colônias. É difícil aceitar, e é essa a base de tudo o que é
disfuncional na sociedade francesa", explicou.
E para a cabeçada
em Moukandjo, qual seria a explicação? Problemas pessoais? Frustração
pela eliminação no Mundial, ou algum xingamento do companheiro? É bem
mais simples, até chocante, mas o lateral conta sem meias palavras, um
episódio comum em qualquer pelada.
"Começou no primeiro jogo, contra o México. O Moukandjo tentou driblar
dois jogadores, perdeu a bola e eu disse que deveria ter passado para
mim. Ele concordou", explica. "A mesma coisa aconteceu no jogo contra a
Croácia. Tudo bem, todo mundo pode errar. Mas eu fui reclamar e ele me
mandou sair do pé dele. Não podia aceitar a reação dele, se estivesse 0 a
0, não teria acontecido", disse ao jornal francês L'Equipe.
A vida de Ekotto, entretanto, não é feita só de polêmicas. O jogador
faz questão de manter os pés no chão, e viver como um cidadão inglês
comum. Em sua garagem, possui cinco carros de luxo, mas, quando dirige,
utiliza um pequeno veículo do modelo Smart. Normalmente, anda de metrô –
possui o cartão, espécie de Bilhete Único inglês.
A outros
projetos, direciona a paixão que não sente pelo futebol: é embaixador da
ONU contra a pobreza na África, mantém uma equipe Sub-12 para crianças
carentes na Inglaterra e pretende, ao se aposentar, ser presidente de
uma organização de caridade no seu país de origem.
Por tudo
isso, Ekotto, mesmo sabendo que sua participação na Copa de 2014 se
encerra após a partida, será profissional e estará em campo contra o
Braisl nesta segunda. Depois, a vida segue, no Tottenham, no metrô de
Londres, e nos projetos de caridade. O próprio jogador, afinal, disse ao
site Goal.com em 2011 que "existem coisas mais importantes do que chutar uma bola".
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