O secretário parlamentar
Wellington Ferreira da Costa, que há 20 anos trabalha para o presidente
da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), disse em
depoimento à Polícia Civil do Distrito Federal que R$ 90 mil dos R$ 100
mil que lhe foram roubados no último dia 13 de junho no Setor de Clubes
Sul, em Brasília, eram destinados ao deputado federal João Maia (PR-RN),
conterrâneo de Alves. Costa recusou-se a dizer qual era o motivo do
repasse ao deputado potiguar e assegurou que os R$ 10 mil restantes
pertenciam a ele. O peemedebista confirmou que o dinheiro lhe pertencia.
Segundo apurou o 247 com
exclusividade, o assessor foi inquirido e reinquirido por policiais
civis de Brasília na tentativa de elucidar o suposto roubo. Segundo o
relato de Costa, um Fiat Strada branco teria freado bruscamente à frente
do Chevrolet Ômega que conduzia, provocando a colisão traseira. Da
picape teriam saído dois homens armados que se apresentaram como
policiais civis da 2ª Delegacia de Polícia, na Asa Norte. Eles levaram
uma maleta com o dinheiro, um iPad e um IPhone.
A informação prestada em
depoimento pelo assessor do presidente da Câmara veio a público depois
que o caso foi transferido para a Delegacia de Repressão a Furtos (DRF).
Alguns dias depois, Alves teve atuação decisiva para derrubar a PEC 37,
que restringia os poderes de investigação do Ministério Público e
reforçava o papel da polícia judiciária (civil e Federal). A polícia do
DF não descarta pedir informações ao Banco do Brasil para confirmar se o
volume do saque informado pelo assessor, os exatos R$ 100 mil, é
verdadeira ou se o montante pode ter sido maior.
Na quinta-feira (18), Alves afirmou em entrevista à Folha de S.Paulo que
o dinheiro roubado era mesmo seu, fruto de um empréstimo (consignado)
tomado junto à agência do Banco do Brasil na Câmara. O destino seria um
pagamento particular. O presidente da Câmara não quis revelar o
recebedor (João Maia) e cobrou apuração do roubo pela polícia do DF.
Inconsistências
Durante as
investigações, a Polícia Civil de Brasília deparou-se com uma série de
pontos obscuros relacionados ao roubo. Entre eles está a perícia da
colisão dos veículos. As duas lanternas dianteiras do carro do assessor
estavam quebradas e os estilhaços, no chão da avenida, mas não havia
danos na grade dianteira do Ômega. Nesses casos, normalmente há danos em
toda a região frontal do veículo.
A denúncia do ocorrido
chegou à 2ª DP na Asa Norte através de um homem que logo foi embora sem
sequer se identificar. Antes mesmo de a equipe de investigadores chegar à
Via L4 Norte, local do episódio, distante poucos metros da DP, uma
equipe da TV Globo e outros dois policiais civis já estavam lá. Os
policiais se limitaram a dizer que eram amigos de Cunha, ignoraram a
jurisdição dos colegas, colocaram o assessor em seu veículo e deixaram a
cena do crime.
Outro ponto a levantar
suspeitas na investigação foi a subtração dos aparelhos eletrônicos. No
que parece ter sido um roubo planejado com minúcias, os supostos
assaltantes acabaram se expondo desnecessariamente ao levar o IPhone e o
IPad, aparelhos que podem ser facilmente rastreados. O telefone foi
abandonado em um estacionamento da Universidade de Brasília (UnB). Já o
tablet foi jogado em uma área na QL 10 do Lago Sul.
A polícia também achou
curioso o fato de o assessor ter feito o saque dos R$ 100 mil em 12 de
junho e planejado entregar a João Maia apenas no dia seguinte. O polícia
ainda questiona o fato de Cunha circular com os R$ 10 mil em espécie
que garantiu ser de sua propriedade.
Denúncias
Em seu segundo mandato
consecutivo, o deputado João Maia já foi alvo de denúncias de formação
de caixa 2 e de omissão de bens à Justiça Eleitoral. Em 2009, ele teria
omitido possuir uma casa em Brasília no valor de R$ 5 milhões, além de
um avião avaliado em R$ 500 mil. No final de 2010, Maia foi denunciado
pelo Ministério Público Federal por supostos recursos não contabilizados
na campanha. Foi absolvido pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio
Grande do Norte.
Em dezembro de 2010, a
Polícia Federal prendeu um sobrinho de João Maia por supostas práticas
ilícitas. Gledson Maia, também parente do ex-diretor do Senado Agaciel
Maia, foi acusado de participar de um esquema de fraude em obras da
duplicação da BR-101 no Rio Grande do Norte. A operação estava inserida
no que foi denunciado pela Revista Veja como o "mensalão do PR" no
Ministério dos Transportes.
Devido às "férias" parlamentares, João Maia e Henrique Eduardo Alves não foram encontrados para comentar o depoimento.
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